Recentemente o Estatuto da Criança e do Adolescente comemorou 20 anos. Ainda há muita polêmica em torno dele, alguns dizem que é uma lei que não serve para o Brasil, outros que só defende bandidinhos, só coloca direitos e não deveres, porém poucos conhecem o texto da lei, sua história e ideal. O debate em torno dos direitos das crianças e adolescentes ainda é permeado de preconceitos e de uma visão adultocêntrica de mundo, que considera a criança e o jovem como um vir a ser, necessitado de proteção e tutela e não como sujeito em si, com direitos e necessidades específicas que devem ser respeitadas.
No período de comemoração dos 20 anos do ECA ficou em evidência um projeto de lei que tramita no congresso proibindo palmadas ou qualquer outro castigo que provoque dor em crianças e adolescentes. O assunto ganhou a mídia e com certeza foi motivo de muitos debates acalorados e apaixonados nas rodas de conversa, nas cozinhas das famílias, etc.
Minha opinião é veemente contra a palmada ou qualquer tipo de violência contra as crianças, aliás sou anti-violência contra qualquer ser vivo. Acredito muito no diálogo, no debate e na disputa política como forma de promover avanços na sociedade, e a violência não promove avanços ela promove o retrocesso, porque ela oprime! Penso ainda que o debate está enviesado. Não se trata de uma intervenção na vida das famílias, pelo contrário, trata-se de uma garantia de direitos, dos direitos das crianças de não serem humilhadas.
Alguns podem argumentar que uma palmada não faz mau a ninguém, mas não vejo situação mais humilhante que um pai ou mãe, pessoa muito maior e muito mais forte, perguntar para uma criança, totalmente indefesa, quantas cintadas quer levar por um ato realizado, julgado como errado pelo adulto agressor. Pergunte a qualquer criança ou jovem se ela gosta de levar uma palmada! Outro dia em um tele jornal a repórter perguntou pra filha adolescente, na presença da mãe, sobre ter apanhado na infância e pré-adolescência. A menina não respondeu, apenas teve os olhos cheios de lágrimas e a voz embargada, numa clara demonstração de mágoa e tristeza.
É preciso lembrar que a sociedade avança para a superação da violência como forma de educar ou de se relacionar. A luta anti-violência em relação às mulheres e também as chamadas minorias, algumas delas culturalmente bem aceitas no país, estão caminhando contra uma corrente cultural. Lembremos da revolta da chibata, movimento que Antônio Cândido comandou contra, dentre outras coisa, os castigos físicos nas embarcações da marinha.
Um tapinha DÓI SIM! Especialistas tem concluído que, embora seja popularmente aceita e surta resultados imediatos impedindo o comportamento errado ou perigoso de imediato, a palmada não educa a longo prazo, estimula comportamentos agressivos nas crianças. Na minha opinião, os castigos físicos demonstras duas coisas: 1) o descontrole e impaciência do adulto com a criança que está se desenvolvendo ou com o adolescente que, na sua contestação, está em busca de uma identidade própria. 2) a premeditação fria de uma violência covarde, nos casos de palmadas e cintadas aparentemente sóbrias e conscientes, com fins educativos.
Não podemos conceber que a educação das crianças seja baseada em qualquer tipo de violência, castigo, premiação ou punição, pois o comportamento conquistado a base da violência ou na iminência dela não passa de adestramento!
Avançar nessa questão é uma evolução cultural!
Olá,
Gostei do texto e do tema.
A prática e o discurso ainda precisam avançar muito em nossa sociedade. Como você bem colocou, a nova lei despertou novamente este assunto nas rodas da família brasileira. E acredito que o caminho para a abolição do tapinha ainda é longo. Porque é mais rápido e porque é um hábito passado de gerações em gerações.
Como mãe, em muitos momentos de educação de meu filho, me vejo em cenas já vividas na minha infância e tomando atitudes igualmente a dos meus pais. Ora acertadas, ora bem equivocadas.
Freud já deu absolvição quase que religiosa a todos os pais ao declarar que seremos TODOS fracassados na educação de nossos filhos, por razões óbvias.
Mas acho que dá para melhorar e muito. O problema é que forjar mudanças dá trabalho e por vezes é necessário uma lei, ainda que distante da realidade de muitos lares, para alcançarmos um mundo mais humano e respeitoso.
Um abraço,
Malu
Gostei muito do texto também e concordo que as palmadas, no geral, partem do descontrole e impaciência dos pais. Não bater não significa não educar, na minha opinião. Ser firme, dar exemplos e ouvir podem ser estratégias bem mais sucedidas… Pelo menos é o que penso…
Oi Gabriela…Seja bem vinad e volte sempre. O diálogo e a tolerência é sempre a melhor saida, quando a questão é a educação dos filhos, mas como bem lembrado por você, há que se ter firmeza e bons exemplos para garantir uma boa educação.
é por isso que existem tantas crianças por ai
comportando-se como adultos
bebendo usando drogas e iniciando vida sexual quando era para estarem brincando de boneca,
com o eca retirou-se dos pais e professores a punição mas não se colocou nada no lugar,
essa geração “pós – eca”ficou num vácuo de “como se deve educar as crianças” que penso que e´uma geração perdida,
eu tinha clubinho com os colegas,jogava bola na rua,chamava professora de tia e a respeitava como tal.
não virei delinquente por conta de surras ou castigos,pois o amor estava junto,
esse é o ponto.
hoje não existe amor e sim uma tentativa de se delegar responsabilidades,que pertencem a nós pais.
a criança precisa de limites anexados a conversas e amor, o que dói numa criança: é não sentir o amor de seus pais, não se sentir querida,isso sim danifica,prejudica e condena.
por favos vamos ser críticos: não digo o eca,mas o uso que se fez dele, condenou uma ou duas gerações,
os pais com quarenta ou menos,simplesmente não tem freios nem senso de responsabilidade,por isso vemos o que vemos hoje,
crianças e jovens nas ruas ,familias que não se conhecem, crianças mal educadas e alienadas,
ja faz um tempo que não dou um corretivo nos meus filhos,”varios anos” mas minha cinta ta guardada, não me arrependo das cintadas que tive que dar.
Bom Douglas, seja bem vindo, esse espaço é democrático e aceita todo tipo de leitura do mundo, mesmo que seja oposta à desse editor. Os problemas que você coloca não tem origem na falta de punição a questão é um pouco mais complexa. Não é verdade que o ECA não prevê medidas de responsabilização das crianças por erros cometidos, ele tem um dispositivo chamado medida sócio-educativa e essas se fossem aplicadas teriam muitos resultados. Agora, qual cidade ou estado investe verdadeiramente em políticas públicas preventivas e também no sistema de recuperação de jovens em conflito com a lei, colocando o sistema previsto em lei em pleno funcionamento??? Não há como dizer que uma coisa não serve se ela não foi coloca em prática. Outro problema é defender a punição física apenas para crianças e jovens. Se a punição funciona, talvez fosse o caso de institucionalizá-la e quem for pego dirigindo bêbado, por exemplo, ou então, quem estacionar em local proibido, em vaga de deficiente, poderia levar umas “boas cintadas”. Castigo físico, sejam em que grau de intensidade forem, é uma prática de culturas não desenvolvidas, primitivas e não racionais.
bom rafael
foi exatamente o que eu disse
tiraram o um instrumento e não colocaram outro no lugar
isso causa essas distorsões
se probirem de vez as palmadas como quer o congresso nacional
vão criar uma distorsão pior ainda,
pois nós seres humanos na infancia somos bem maldosos e sabemos explorar fraquezas dos adultos.
sem contar na correção de delinquentes,esses sim os mais beneficiados com o eca,
veja bem nunca espanquei filho meu e abomino que faça.
agora se a inglaterra é um pais atrazado e não desenvolvido eu não sei quem é evoluido,
e la um tapinha pode sim,
em casa o dialogo e os exemplos são uma realidade,mas meus filhos sabem que toda fuga da regra pode acarretar sanções e punições como na sociedade,e eles estão se tornando bem criticos e observadores dos comportamentos da sociedade,
então quando lhe digo que hoje o brasil não é preparado para o eca eu digo uma verdade
que diga os “menores que matam sem um pingo de misericordia e depois riem e dão graças ao ECA que não socializa e os devolve para sociedade para voltar a matar e roubar,
sou a favor sim é da diminuição da maioridade penal,e avaliações a respeito não da idade mas sim do comportamento,
agradeço pela atenção e pelo canal disponibilizado para discussões.
Douglas, obrigado você por participar do debate…Seja sempre bem vindo.